Neste terceiro episódio, nós falamos sobre relacionamentos e nossas experiências como assexuais dentro de namoros e QPRs. Espero que você goste!
Participantes: Mojo, Catarina e Eduarda
Convidades: Myrna, Rapha, Calisto, Mayara
Edição: Eduarda
Transcrição de Áudio – Episódio 3: Relacionamentos
[Música]
Mojo: Oi pessoal, tudo bem? Aqui é o Mojo falando. A gente está iniciando agora o nosso segundo episódio do podcast Aroaceiros e o tema de hoje é: Relacionamentos. Para falar sobre isso, a gente trouxe algumas pessoinhas: o Krol¹, a Mayara, a Myrna e o Rafa. Aí a gente vai elaborar esse tema juntamente também com a Eduarda e a Catarina, e comigo, que fazemos parte da equipe do podcast do Aroaceiros. Vocês querem dar um “oi”? Se apresentar?
¹: Apresentado como Krol nesse episódio, Calisto mudou de nome algum tempo depois da gravação desse episódio, dessa forma, essa transcrição terá seu nome correto.
[Música]
Mayara: Olá galera, Mayara aqui, eu sou carioca, tenho 28 anos, eu desenho, escrevo, faço joguinhos e é isso ai *risada*;
Calisto: É… eu sou Calisto, eu sou não-binário, uso pronomes o/ele/-o, e é isso;
Rafa: Eu sou o Rafa, tenho 21 anos, to terminando a faculdade de biblioteconomia né, então praticamente eu sou um bibliotecário, mas eu também sou artista e é isso;
Myrna: Eu sou Myrna, é… tenho 21 anos, e to terminando a faculdade de gastronomia, mas fora isso eu não faço nada da minha vida [risada];
[Mojo volta a falar]
Mojo: Ah meu deus, *risada* o que eu sei é que as apresentações elas seguiram todas um padrão bem diferente né, cada um falou uma coisa bem diferenciada *risada*
Mayara: Ta ótimo *risada*
Mojo: Ta, vamos começar então. O primeiro tópico que a gente separou aqui era a diferença entre namorar uma pessoa allo e uma pessoa ace. Querem falar sobre isso?
Mayara: Eu posso falar sobre namorar uma pessoa allo, porque meu namorado é allo, e a gente tá junto há uns 11 anos. Então, eu sou demirromântica e demissexual, ele é allosexual e eu tenho grandes suspeitas de que ele é demiromântico, mas ele não se importa com se identificar com coisas, então ele é alloromântico e é isso ai.
A gente se conheceu no ensino médio e… o processo de começar a namorar foi digamos… interessante? Porque eu não… pra começar eu não me apaixonei, no sentido que a gente vê nas histórias por ai, mas eu percebia que ele me tratava de uma forma diferente dos outros meninos da nossa sala, não de um jeito ruim, só diferente, sabe, ele mantia uma distância de mim, e eu não entendia porquê. E isso meio que fez o meu lado teimoso, fez eu decidir, ok eu quero entender o que que está rolando, e com o tempo eu acabei desenvolvendo atração por ele, romântica, ai a gente começou a namorar no terceiro ano do ensino médio e ele é extremamente allosexual.
E esse processo, eu ainda não sabia que eu era demi e esse processo de me descobrir foi o que ajudou a gente a entender o que tava rolando quando a gente tinha conversar sobre relações sexuais, porque obviamente era uma coisa que eu sabia que ia acontecer.
Eu sempre quis ter filhos então na minha cabeça isso sempre foi uma certeza de que ia acontecer em algum momento futuro, mas toda vez que a gente tentava alguma coisa, era como se eu tivesse travada de alguma forma e eu não tinha palavras pra explicar o que que estava acontecendo, então quando eu me descobri ace, que foi alguns meses dentro do relacionamento já, e a gente tendo esse problemas há alguns meses, é…
Eu consegui explicar pra ele o que tava acontecendo, e ele foi uma pessoa muito boa pra mim, que teve a paciência de me escutar e tentar entender, e é por isso que eu digo que se eu não tivesse me descoberto ace eu provavelmente não estaria no relacionamento há tanto tempo, porque eu não tava entendendo o que tava acontecendo comigo, e as coisas, a gente não teria conseguido conversar e provavelmente o relacionamento teria acabado com os dois frustrados. Essa é minha experiência namorando uma pessoa allo *risada*.
Myrna: Eu queria pedir pra falar porque a minha experiência é bem parecida com a da Maya. Então, eu conheci o meu namorado quando… então, primeiro, ele é allo e eu sou demi.
Conheci ele, quando eu saí do Rio de Janeiro, pra vir morar na Paraíba, eu tinha 8 anos, ele era meu vizinho, a gente brincava juntos e tal, e ele sempre dizia que ia casar comigo e eu nem aé pra ele né, porque eu era criança obviamente. Ai passou vários e vários anos e depois a gente parou de se falar e começamos a namorar eu tinha 16 anos, faz parte.
Enfim, eu não entendia o que tava acontecendo comigo, porque assim, tudo aconteceu bem lentamente, eu já sabia que eu tinha alguma diferença das outras pessoas. Aí depois …… começou a ter um contato mais sexual e aí assim, eu não me sentia nada bem, ficava desconfortável, era horrível, e eu não sabia porquê, e ele também não né, aí ele ficava mal porque ele achava que tinha algum problema com ele, porque ele é bem diferente do padrão, então ele achava que era sei lá, algum problema na aparência, alguma coisa assim, mas não era nada disso, era que eu não me sentia bem em falar pra ele que eu não tava… que eu não sentia alguma coisa…
Eu ficava desconfortável porque tinha medo de magoar ele, esse era meu maior medo sabe, que ele ficasse triste e eu não queria isso, mesmo eu não entendendo o que eu sentia e ele também não, porque eu não sabia que era ace ainda, ele me respeitou muito e nunca ultrapassou os meus limites.
Depois, foi esse ano, depois de 4 anos no relacionamento, sem entender nada, ele muito menos, que eu descobri o que é a assexualidade e me identifiquei. E isso pra mim foi como se abrisse uma luz, eu me senti pertencente a alguma coisa, e não me senti mais tão estranha quanto eu achava antes.
Eu contei pra ele e ele ficou muito feliz, até chorou junto comigo, foi um momento bem importante pra gente. Agora eu me entendo, e também me sinto muito melhor, e ele também. Uma coisa que eu fico triste é que ele tem expectativas, né, e eu não posso corresponder aos sentimentos dele, porque ele sempre vai ter, mas eu fico meio sem querer assim, o que eu quero é bem limitado e o que eu aceito fazer, mas ele sempre me respeitou, vai ficar comigo assim e é isso.
Se eu não tivesse descoberto eu ia continuar com ele, tenho certeza disso, e ele também ia continuar comigo, mas seria muito difícil continuar com essa confusão toda por muito tempo, muito mais do que já ficou.
[5:50]
Mayara: É, bem parecido comigo mesmo, a diferença é que como eu tive contato com a comunidade ace bem no início do relacionamento, nosso período de confusão foi bem menor.
Myrna: Por isso que a informação é muito importante, né, porque quando você não conhece, você não sabe, você fica completamente perdido, não tem como saber, e também se conhecer é difícil, porque eu não acho que seja fácil encontrar uma pessoa que você conhece pessoalmente que seja assexual ou que conheça isso pra explicar pra você o que é, acho isso muito difícil.
Catarina: É, como o mojo sempre disse, tipo, as pessoas têm essa dificuldade de assumir que são ace para não serem julgadas, sabe, então a gente realmente encontrar, como você disse, alguém pessoalmente, é extremamente complicado e não sei, se dizer “raro”, sabe.
Mayara: Eu cheguei a conclusão de que é menos raro do que parece, porque uns anos depois, eu já tinha terminado o ensino médio, já tava na faculdade, conversando com o meu círculo de amigos do ensino médio, umas duas outras amigas minhas também são ace.
Mojo: Então cara, quando eu me descobri ace, meu grupo inteiro de amigos se descobriu ace, tipo, a gente era em 3 ou 4, aí todos, nos descobrimos aces, sabe, então tipo assim, no caso a minha primeira namorada também era ace, e minha última namorada eu também suspeito que ela seja ace, então tipo, sei lá não é tão raro assim, é raro, mas não tanto.
Catarina: É que tipo, é como se tipo, as pessoas só precisassem de um pontapé, entendeu, então tipo, depois que descobre a assexualidade, daí a gente vê que um monte de gente envolta da gente também é, e tipo, apresenta, mostra, e ai todo mundo se descobre ace, eu acho muito bom isso, sabe.
Raphael: Eu acho que, no caso, por exemplo o meu caso, o meu relacionamento, foi que tipo, eu ja tinha consciência de que eu era ace, quando eu comecei a
relação, porque eu me descobri com, sei lá, eu me descobri com 13 anos, assim, e quando eu comecei a relação a pessoa começou a se descobrir também, tá ligado, então tipo, eu imagino tipo, não que eu queria achar que “nossa eu salvei a vida dessa pessoa, fiz ela se descobrir” nada disso, mas tipo, é meio que a gente começou a se relacionar e a pessoa se descobriu porque teve alguém pra passar a informação e essas coisas, sabe.
Catarina: Meu namorado ele é allo, né, só que tipo ele não é, eu sinto que ele não é, ele é sexo neutro, sabe gente, então quando a gente fala sobre alguma situação, ele fica “tanto faz” sabe, porque eu já conversei muito sobre a minha situação como demi pra ele e ele também, foi uma coisa muito interessante, que me deixou muito impressionada no começo do meu relacionamento.
Quando a gente começou a ficar, a gente se conhece tem pouco tempo, então ele começou a ficar afim de mim, então ele viu, ele entrou no meu perfil do twitter e viu sobre, e aí ele foi atrás da assexualidade, foi pesquisar sobre, para poder tipo, ter assunto comigo e entender a minha situação, porque ele era allo, ele não conhecia ninguém ace, então ele não fazia a mínima ideia do que tava acontecendo, o que que era aquela sexualidade, sabe.
Então foi tudo muito simples, a nossa dinâmica, porque eu não precisei explicar muita coisa, ele já chegou já sabendo a situação, então assim, eu não sei, é o meu primeiro relacionamento, então eu não sei como é pras outras pessoas, mas foi extremamente confortável, e é confortável, a nossa relação, é um web-relacionamento*, e não tem todo aquele ar de “meu deus, eu preciso me ceder, ou fazer coisas que eu não quero” porque, não é presente* no nosso relacionamento.
Calisto: Vou falar do meu agora. O meu relacionamento é a distância, e aberto, a gente tá há quase 2 anos namorando agora. A gente se conheceu pelo Twitter, e ele é allo, tanto romântico quanto sexual, eu sou assexual estrito e demiromântico.
[10:05]
Eu já sabia que era assexual, e tal, que eu tava no espectro aro, e eu era bem aberto sobre isso no Twitter, e ele viu, no caso. E já sabia o que era a assexualidade, porque ele já tinha uma amiga demissexual, se não me engano,
então eu não tive aquele negócio de me descobrir e ter que contar pra ele, e nem de explicar nada, porque ele já sabia.
E ele sempre foi muito cuidadoso comigo, pra não me deixar desconfortável, nem nada e isso foi o que me deixou sempre bastante seguro no meu relacionamento. Então eu tive uma experiência bem positiva, tô tendo ainda né, no caso, tanto que assim, ele sempre fala, tipo, quando a gente se encontrar, né, porque a gente ainda não se viu, mesmo se a gente só se abraçasse e tal, ele já seria feliz só por estar comigo, então isso é algo que me deixa seguro, e que é um pouco diferente de experiências anteriores, onde eu ficava, mesmo não namorando e tal, eu ficava inseguro, por ter medo das pessoas me rejeitarem, por ser ace e tudo mais, e agora não tem isso.
Mayara: Eu to tão feliz de saber que cês tão felizes e eu fico muito feliz quando eu escuto pessoas ace sendo felizes, tanto em relacionamento quanto fora, ai gente eu to muito muito feliz.
Mojo: Acho muito importante também a gente trazer questões positivas, sabe, pras pessoas verem que a gente não necessariamente vai ou precisa se isolar e ficar sozinho, se não for o que você quiser. Beleza, então vou falar um pouquinho da minha experiência.
Eu namorei uma pessoa assexual que se descobriu antes de começar a namorar comigo, uma pessoa allo e uma pessoa que ta se descobrindo assexual agora depois que a gente terminou.
Mas enfim, o meu primeiro namoro, foi tipo, essa parte envolvendo a assexualidade, com certeza foi o menor dos nossos problemas, não foi nenhum problema na verdade, foi uma coisa muito tranquila, porque tipo, foi um relacionamento que não dependia de contato físico, principalmente beijos e essas coisas, inclusive a gente nunca se beijou e foi um relacionamento presencial, digamos assim, e as pessoas geralmente estranham muito isso ou falam que não foi um namoro de verdade, etc, o que eu acho muito babaca, mas enfim. Então tipo, foi bem tranquilo sabe, eu não me sentia forçado a tentar fazer coisas que eu não me sentia confortável, sabe, e eu tinha 16 anos, então, é uma fase da vida que é bem complicada né, essa parte.
Agora quando tinha 18, quando eu namorei uma pessoa allo, foi bem mais complicado, sabe, a minha experiência não foi positiva como a de vocês, foi bem
complicada, porque mesmo eu falando desde o início sobre eu ser ace e explicando desde o início, quando a gente começou a ficar, que eu era assexual, ele só percebeu que não ia dar certo, que ele não tava se sentindo confortável, depois que a gente começou a namorar, entendeu.
Então tipo, pra mim foi um baque muito forte e aí eu acabei me forçando a fazer algumas coisas que eu não queria, pra tentar manter o relacionamento e tipo isso é uma coisa muito ruim de se fazer, então tipo assim, eu acho que uma coisa muito importante que eu gosto de passar pra pessoas me baseando nessa minha experiência é: cara, não se force a nada dentro de uma relacionamento, porque não vai ajudar em nada, só vai te traumatizar, e piorar o relacionamento em si.
Mas enfim, no meu último namoro, foi com uma pessoa que no início ela achava que ela era allo, só que ai eu fui percebendo umas coisas sabe, tipo, uns comentários, uns desconfortos, umas conversas que eu ficava tipo assim “sim, interessante” e aí eu fui percebendo que ela era muito mais parecida comigo do que com pessoas allo no geral.
E aí atualmente ela acompanha o aroaceiros e ela vai nas rodas de conversa, pra escutar, mas ela acaba sendo muito afastada da comunidade né, porque ela é rodeada de pessoas allo, eu acho que eu sou a única pessoa ace que ela conhece, mas assim, esse é um dos meus relacionamentos presenciais que foram românticos.
E aí eu tive um relacionamento queerplatônico, que foi com uma pessoa aroace e foi um web-relacionamento também, que foi com o Elliot, ele é meu melhor amigo e com certeza foi o meu melhor relacionamento de longe, sabe, eu acho que tendo essa coisa em comum, e também por ser aquela pessoa, a gente conseguia conversar muito bem e declarar muito bem algumas coisas.
E também tem a questão, eu não sei se vocês já tiveram relacionamentos queerplatônicos, mas toda a dinâmica é bem diferente, é tipo, pra mim, dentro das minhas experiências, acaba sendo bem diferente da dinâmica de um relacionamento romântico. Então tipo, essa experiência foi muito positiva, mas eu acho que atualmente eu não teria interesse em um relacionamento queerplatônico e nem em relacionamento romântico também *risada*
[14:50]
Mayara: A minha única experiência com relacionamento queerplatônico, foi quando eu tentei, e levei um fora *risada*. É… eu tava passando, tipo, começou a quarentena, uma amiga minha que eu já conhecia pessoalmente, mas ela é de Minas e eu sou do Rio, é, a gente começou a tipo jogar junto online e tal, às vezes ela jogava comigo e com meu namorado e a gente conversava.
E aí eventualmente eu virei pra ela “então, cê já pensou em, talvez, sei lá, se você quisesse começar um relacionamento queerplatônico comigo?” porque, eu e meu namorados somos poliamorosos, ele já ficou com outras pessoas e eu nunca tinha tido a experiência de sentir uma atração, nem platônica, nem romântica por uma outra pessoa até essa minha amiga e ai ela falou que não era o momento pra ela, mas a gente tá bem, mas foi meu primeiro fora na vida *risada *, porque o meu namorado é o meu primeiro relacionamento de todos da minha vida, então é isso aí.
Mojo: Eu não sei se, é porque, é por, assim, é por umas questões mais pessoais né, mas eu sou, tipo, como que fala… completamente apavorado, sei lá, tenho muito medo de ser rejeitado, tipo, parece que é quase física sabe, então eu evito falar pras pessoas, mas sei lá eu acho que com essas minhas experiências eu acabei percebendo que eu prefiro ser rejeitado logo no início do que depois de começar um relacionamento.
E… eu não sei porque eu to falando disso, eu só lembrei disso agora. Enfim, e tipo, eu não sei se todo mundo aqui tá tendo os primeiro relacionamentos, eu sinto que muita gente aqui tá nos primeiros relacionamentos.
Catarina: Eu acho que eu sou a única que não é o meu primeiro. Mojo: Eu também, a Eduarda.
Eduarda: Atualmente é o meu primeiro queer relacionamento né, não é esse o nome, esqueci agora fiquei nervosa.
Mayara: Eu acho que o fato de a gente ter muita gente aqui na conversa que ta nos primeiros relacionamentos, mais do que seria esperado, é porque o fato de que nós estamos nos espectro ace e/ou no espectro aro, meio que força a gente a ter que se comunicar de uma forma que a galera allo não tá acostumada a fazer, e comunicação é extremamente importante num relacionamento.
Então como a gente já tem que, primeiro, a gente que conversar com a gente, pra se entender, e depois a gente tem que conversar com as pessoas a nossa volta, porque a gente quer que entendam a gente, e essa prática de conversar meio que ajuda nos relacionamentos, porque a gente perde, ou aprende a lidar com a ansiedade de tipo, falar sobre as coisas que incomodam, o que eu acho que não* acontece muito em relacionamentos allo, que não dão certo.
Mayara: É relacionamento queerplatônico?
Eduarda: Isso, exatamente. E aí é com uma pessoa que é demi também, tanto romântica como sexual, e… de todos, anda sendo um dos meus melhores justamente por não ter essa cobrança, né, que normalmente, normalmente não né, eu só namorei pessoas allo e mais velhas.
Então tinha muito essa cobrança de querer algo, tentar algo, e esse ta sendo muito amorzinho, muito tranquilinho, a gente tem os meus surtos, a gente conversa bastante, então eu pessoalmente acho mais fácil namorar pessoas da comunidade, assim, acho que pelas experiências de vida mesmo, porque é uma pessoa muito mais calma atualmente, muito compreensiva assim, ele sabe como eu me sinto e tá tudo nem sabe, e eu não sinto a pressão que eu sempre tive com todos os outros.
Mojo: Isso é muito legal. Não sei como é pra vocês também, mas tipo, eu acho que isso, quando você pega isso e junta com relacionamentos tipo não binários (era pra ser não-monogamico), acaba tendo um relacionamento com comunicação pra caralho e aí eu acho que isso ajuda demais.
Como a mayara falou, e … a comunicação sabe, porque tipo é mais que conversar consigo mesmo para se entender, porque todo mundo que é lgbt tem que ter pelo menos um pouquinho dessa conversa, mas também porque a nossa identidade influencia e interfere muito dentro do relacionamento, sabe, porque é mais que um gênero da outra pessoa que você vai se relacionar, mas também a maneira como você vai se relacionar envolvendo questões afetivas, sexuais e de contato físico, enfim tudo que gira em torno do nosso mundinho dos espectros, então tipo, eu concordo demais nessa parte sabe.
Catarina: Eu acho totalmente válido, porque, por exemplo, eu nunca tive nenhum relacionamento por questão de que quando alguém tentava ou quando eu tentava ficar com alguém, eu sempre ficava muito nervosa, porque eu não
conseguia, porque pra mim não era um negócio de sentir atração e querer fica com essa pessoa seja tanto, mojo, eu não lembro qual é o nome meu deus, aquela do você quer beijar a pessoa sem intenção de ter sexo
Mojo: Sensorial
Catarina: É, exatamente, é… tanto na atração sensorial quanto na sexual, sempre foram coisas muito complicadas pra mim, então ter contato com outra pessoa era complicado. Todo mundo que eu tentava ficar, não pensava num relacionamento sem isso, tinha que ter o toque.
Então quando eu ia pra beijar a pessoa eu ficava tipo super bem, aí chegava na hora eu passava mal, tipo atacava minha ansiedade, eu não conseguia comer, eu ficava com sensação de vomitar, e a pessoa não entendia porquê que isso tava acontecendo, né, ela perguntava tinha alguma coisa errada com ela, que fazia eu não querer ficar com ela, e eu tipo não sabia que não, que o “problema” era comigo, não o problema, mas não ia rolar por causa que eu não me sentia bem com aquilo, porque eu ainda não entendia que eu era ace.
[20:10]
Eu me descobri tem 2 anos só, e aí as pessoas, antes desse tempo, não fazia sentido pra elas o fato de que eu não conseguia beijar, até hoje as pessoas ficam me perguntando como que eu nao consigo beijar outras pessoas sendo que é uma coisa tão fácil, sabe.
Mojo: Nossa demais demais demais, pra mim é tão difícil, tipo, nossa é tão difícil, parece que é uma coisa tão complicada sabe, tipo, ataca demais a minha ansiedade e aí junta um monte de coisa muito específica da minha pessoa né, mas tipo assim, na minha experiência, a grande maioria das vezes, acho que eu lembro de uma única vez que eu gostei de beijar alguém sabe e foi uma vez em específico que houve mais toques, e também tinha muito mais envolvimento emocional e tals, uma monte de circunstância, sabe.
Eu não sei pra vocês, mas pra mim, eu odeio beijar em lugares públicos, tipo assim, parece que todo mundo vai olhar, e eu vou fazer tudo errado e tá tudo estranho, como se fosse uma coisa, uma piada sabe tipo, um passo a passo que não existe. E olha pra mim não é instintivo, não é uma coisa que acontece naturalmente, “ah mas vai acontecer com o tempo”, não vai.
Porque eu já fiquei com algumas pessoas e não deu certo, toda vez dá errado, meu deus eu me estresso demais sabe. Eu lembro que no meu primeiro beijo eu tive uma crise crise de ansiedade e eu comecei a rir, ai eu tive um ataque de riso, tipo daqueles que você fica sem ar e você não consegue sabe, tipo, emitir som nenhum.
E a outra pessoa ficou extremamente desconfortável e não foi culpa da outra pessoa sabe, eu tava tendo um ataque, uma crise, porque eu não me sentia confortável com contato físico e eu não sabia o porquê, tipo eu tinha 15 anos sabe.
Myrna: Nossa, eu também não consigo beijar nem nada assim, tanto é que eu só beijei esse meu namorado mesmo e eu não consigo beijar em público, pra mim não existe isso, não pode acontecer, não sei, dá um nervoso, não gosto nem de abraçar, não sei, eu tenho um complexo ai, não sei porquê eu sou desse jeito.
Eu nunca consegui ficar com ninguém, muitas pessoas já pediram, mas me dava um nervoso e eu também não queria, e aí eu não* conseguia nem negar, muitas das vezes, porque eu ficava muito nervosa*.
Calisto: É… eu gosto de beijo, mas eu também não me sinto muito confortável de ser em público, eu só beijei duas pessoas na minha vida e uma delas em nem queria, mas a outra experiência foi legal. E tipo, eu gostaria de com meu namorado, mas eu realmente não tenho vontade de beijar pessoas que eu não conheço, e eu não tenho essa atração, essa proximidade nem nada.
Raphael: Eu também não sinto isso, de tipo, vontade de beijar pessoas, no geral, quando eu comecei o relacionamento, no começo o relacionamento era aberto né, a gente fechou eventualmente, mas enquanto ele foi aberto, tipo eu até tentei beijar outras pessoas pra ver se ah, sei lá *risada*, só que tipo, era tudo tão diferente.
Eu não sentia tipo repulsa, ansiedade, mas mim não tinha significado, tipo para que que eu to fazendo isso sendo que eu poderia sei lá, ta dançando no meio da pista, em vez disso eu to aqui, nesse saco, beijando uma pessoa sabe *risada*.
Então tipo pra mim era chato, não tinha sentido, eu não sentia nada, pra mim não tinha nenhum significado fazer um negócio que, sei lá, pra mim não trazia nenhum sentimento, tipo sei lá.
O que aconteceu foi que, antes de eu namorar eu me considerava ace estrito né, então tipo pra mim eu não tinha vontade de ficar com ninguém, entende, nada assim, sabe, só que ai quando eu comecei a namorar, eu comecei a desenvolver atração sexual e sensorial e coisas assim pelo meu namorado e só por ele.
E aí eu achei isso estranho, eu achei que “nossa eu estava traindo o movimento esse tempo todo” só que tipo, não era uma “traição de movimento”, eu ainda sim, quando eu beijava essas pessoas, eu não sentia nada então pra mim começou a ficar mais claro que eu estava no espectro, na área cinza né, e que eu era demissexual.
Então tipo, eu acabei me descobrindo demissexual por causa do meu namoro e também eu acho que ter essas coisas mais clarificadas faz você não se forçar a muitas coisas sabe, tipo eu imagino sei lá, muitas pessoas que elas se forçam a esse tipo de interação com outras, porque elas não têm essas consciência de que elas não precisam disso, de que é normal você não querer beijar alguém, e que é normal você não achar isso uau, uma grande coisa, sabe.
[24:23]
Porque assim, sinceramente na minha opinião não é uma grande coisa tipo “ah eu beijo várias pessoas”. Eu lembro até na escola, no ensino médio que as pessoas tinham esse costume de ficar perguntando de mesa em mesa quantas pessoas você já beijou na vida e eu era sempre a pessoa que respondia zero. *risada*
Porque exatamente, eu não ia atrás e foi só quando eu entrei na faculdade que eu perdi o bv e ainda foi com uma pessoas que eu nem tinha interesse e foi completamente surpresa pra mim e eu nem gostei tanto.
Então tipo, eu acho que eu só comecei a sentir algo tipo “ah beijar essa pessoas é bom”, no caso meu namorado, pra mim o único momento que beijo é bom é com o meu namorado.
O único momento que qualquer atividade sexual é boa, é com o meu namorado e aí eu fiquei ó, sou demissexual e foi a partir desse momento que eu tive esse clique na minha cabeça, porque antes disso, qualquer interação sexual, qualquer interação sensorial que eu tinha não significava nada, era até irritante porque eu tava perdendo meu tempo.
Calisto: É eu concordo bastante, eu já tentei outras vezes chegar em pessoas, pra ficar e tal, só que aí antes mesmo de ficar eu ficava muito ansioso e via que não ia rolar pra mim e aí eu me afastava, mas o meu processo foi um pouco contrário do Rapha, porque eu achava que era demi, justamente por sentir atração por uma pessoa e beijar e ter gostado e depois eu vi que separando a atração sexual e física, eu não sentia atração sexual nenhuma, só física mesmo e ainda é raro, só quando tem uma proximidade, se não, não rola de jeito nenhum.
Mayara: É, pra mim foi um processo parecido com o rafa, porque eu comecei a aprender a diferenciar as atrações que eu sinto, depois que eu comecei a namorar e aí eu percebi que eu funciono assim, pra mim querer contato físico é normal, eu sou uma pessoa muito física, eu gosto de abraçar as pessoas, inclusive na minha família eu meio que cresci não tendo a opção de não abraçar as pessoas e eu acho isso horrível.
Hoje em dia eu tento dar esse espaço pros meus primos mais novos escolherem se eles querem contato físico ou não, mas os adultos forçam contato físico com eles e eu acho terrível.
Mas eu sempre fui de boa com contato físico e descobri que comigo é assim, se eu chegar num ponto de olhar pra pessoa e pensar que eu quero muito abraçar essa pessoa, eu estou começando a sentir atração platônica, o que já é o suficiente pra eu considerar um relacionamento queer platônico.
Depois disso, eu posso chegar ao ponto de pensar que eu quero beijar essa pessoa e isso pra mim indica atração romântica. Depois disso, eu posso talvez chegar ao ponto de pensar em ter relações sexuais com a pessoa e aí eu chego na atração sexual.
Então pra mim, uma depende da outra, eu não tenho atração romântica se eu não sentir atração platônica e eu não tenho atração sexual se eu não sentir atração romântica.
Rapha: Eu acho que o que você falou é uma das possibilidades que tem de tipo você ser demi, porque ser demi significa você ter um vínculo, mas não necessariamente precisa ser um vínculo romântico, pode ser um vínculo de todos os tipos.
Mas eu acho que como os demi lidam com esse vínculo de forma diferente e nem sempre em todos os relacionamentos eles vão sentir a mesma coisa, como por exemplo nesse caso, eu até posso ter vínculos intelectuais, vínculos de amizade com as pessoas.
Mas até agora eu não senti vontade de ter atividade sexual com ninguém, mas especificamente com as pessoas que eu namoro sabe, como eu não tive outros relacionamentos eu não sei se é sempre assim, mas o meu vínculo romântico que eu tenho com o meu namorado, ele meio que determina isso sabe.
Mayara: É, pra mim é bem assim eu já vi outras pessoas principalmente na comunidade internacional falando que não é sempre nessa lógica, teve uma pessoa que eu vi que disse que com o namorado dela é bem o contrário, que ele só sente atração romântica se sentir atração sexual, que é o jeito que eu acho que o meu namorado funciona.
Então dá pra ser alossexual e demiromantico de forma que a atração romântica depende da atração sexual e eu acho muito legal parar pra pensar nas várias maneira que as pessoas do espectro ace funcionam de várias formas tão diferentes mas a gente meio que tem os mesmos tipos de experiências então da pra conversar.
Raphael: Sim, isso entra inclusive naquela coisa de que a gente não pode sempre colocar ace e aro como coisas unidas e indissociáveis. Uma pessoa pode ser allo e pode ser arromântica, pode ser demi romântica. Ser aro e ser ace são coisas dissociáveis, é interessante esse exemplo que você deu, porque ele mostra exatamente isso.
Mayara: Sim, e ajuda a quebrar o estereótipo que as pessoas acham que se você é ace, você é aro, se você é aro, você é ace e que as duas coisas são a mesma coisa sendo que não são, isso me irrita.
Raphael: Exato! Eu acredito que muitas pessoas se consideram aroace porque de certa forma, na hora que você entende uma atração você começa a entender
outra, e mais outra e você se entende melhor. Por isso eu vejo que muitas pessoas se colocam como aroace, mas não são coisas indissociáveis sabe, então eu acho interessante ver isso.
Mayara: Essa conversa que a gente teve aqui, esse podcast, esse esforço do aroaceiros, é muito importante pra quebrar esse estereótipos. Primeiro não é só aro que é ace e só ace que é aro, tem pessoas de vários jeitos e de várias formas e que entendem a própria orientação sexual de formas diferentes, também pra mostrar que ace e aro não significa que a gente não quer ou que a gente não pode entrar num relacionamento. Existem vários tipos de relacionamento, cada um é cada um, cada um funciona de um jeito, não assumam coisas.
[30:32]
Calisto: Sim, eu acho isso muito importante de falar, porque quando eu comecei a namorar, forma várias perguntas no meu curious cat perguntando, nossa como assim você é aroace e namora, sendo que uma coisa não exclui a outra necessariamente, até porque eu não sou arromântico estrito, eu sinto atração romântica.
Mayara: É realmente importante que a gente chegue num ponto que a gente não precise mais tocar nessa questão e que as pessoas entendam, não assumam que a pessoa é aro só porque ela é ace e vai funcionar de um jeito, não é assim que a vida funciona.
Eduarda: A gente fala sobre muitas coisas no primeiro tópico, mas o segundo tópico seria compartilhar como foi contar que é ace, vocês querem compartilhar sobre?
Raphael: No meu caso, como eu falei né, quando eu comecei a tinha relação eu já tinha me descoberto como ace, mas eu me considerava ace estrito, então eu tava ficando com a pessoas por um mês, aí nesse momento, nesse momento que a gente começou a namorar eu falei “ou eu sou assexual e por eu ser assexual você sabe como é”.
Eu até lembro desse dia porque a pessoa não tratou com espanto sabe, tratou com uma naturalidade que acho que a pessoa fez uma associação de que tinha a ver como hétero, homo, bi e pensou “ah não deve ter a parte sexual” e não se surpreendeu tanto.
Eu também lembro que eu falei, ah vamos ter uma relação aberta, porque o fato de eu ser assexual talvez seja uma falta pra você, talvez o fato de eu não querer atividade sexual pode ser um problema pra você né e talvez você precise buscar isso em outras pessoas.
É foi bem tenso, mas naquela época eu tinha esse tipo de pensamento, eu tinha essa insegurança de que eu ia acabar sendo insuficiente, porque eu sou ace e aquela pessoa vai ter necessidades sexuais que eu vou acabar não podendo suprir e coisa do tipo. Só que acabou que a própria pessoa se descobriu ace, eu me descobri demi, ela se descobriu ace e no fim a gente fechou a relação e agora estamos noivos, mas enfim.
Mayara: É, pra mim, eu meio que já falei um pouco mas, eu acho engraçado porque eu também lembro, eu tava na minha casa, ele tava na dele. Eu tava lendo sobre uma artista que se identificava como aroace e aí quando ela começou a falar sobre no tumblr dela eu fui atrás e fiquei tipo “hmmm, o que é isso?”.
Aí eu achei a AVEN e caí na definição de demissexual, então eu fui direto pra demissexualidade, eu não tipo o tempo de pensar que talvez eu seja assexual estrita, depois chegar na demissexualidade, porque eu tive a sorte de entender inglês e ter encontrado a AVEN.
E aí eu tava lendo e pensei “hum, isso parece comigo”, copiei e colei a citação da AVEN pro meu namorado e falei, eu acho que sou isso aqui, eu acho que é por isso que a gente tá tendo problemas.
E a reação dele, foi meio de não entender mas querer entender, então ele fez perguntas, começou a ler também, me perguntar como eu me sentia, como funcionava e tal. E aí a gente foi conversando, isso ao longo de algumas semanas e eventualmente ele entendeu.
E isso, eu acho engraçado, porque o meu pensamento pra gente se descobrir poliamorosos, foi mais ou menos que nem o do Rapha, mas não de uma forma tóxica.
Porque quando a gente tava ficando, não passava muito pela minha cabeça, mas ele começou a gostar muito de uma outra pessoa, aí eu pensei, ah, se ele
começar a gostar de outra pessoa e gente abrir o relacionamento, eu não vou sentir tanta pressão de ter uma relação sexual o tempo todo e isso é legal.
Foi assim que funcionou pra mim e aí pensando mais um pouco, eu pensei que eu gostaria de ter a possibilidade de gostar de outra pessoa e ver onde ia dar essa relação e a gente chegou a conclusão que nós dois somos poliamorosos.
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Calisto: Tem uma diferença mesmo sendo parecido assim com a may, a mesma questão de não ver problema em se relacionar com outras pessoas, tira um peso de se você quiser transar ou beijar outras pessoas, eu não tenho que fazer essas coisas, também é algo que se eu gostar de outra pessoa, não vai ser um problema na relação.
Myrna: No meu caso, foi bem simples porque a gente sempre teve essa coisa de conversar bastante e essa coisa toda, e assim que eu descobri eu mandei mensagem pra ele, tudo que eu tinha descoberto eu mandei e foi muito bom, porque ele entendeu e foi isso.
Eduarda: Mais alguém quer compartilhar?
Catarina: Eu acho bom a gente falar também sobre a diferença de relações acentrado ou um relacionamento com um allo.
Raphael: O meu relacionamento é ace centrado, eu vi que várias pessoas falaram sobre seus relacionamento com pessoas allo, na verdade eu não acho que tem mais alguém com um relacionamento ace centrado.
O meu foi, por causa que conforme eu fui conversando com a pessoa, ela foi se descobrindo e eu já sabia de certa forma. Eu já sabia que eu era ace, mas com o relacionamento eu me descobri demi e a outra pessoa se descobriu ace, então de certa forma é ace centrado.
Eu não sabia diferenciar com um relacionamento allo porque eu não tive esse relacionamento, esse é o meu primeiro relacionamento, só que eu poderia comparar só uma experiência muita vaga, que eu comecei a ficar com uma pessoa allo, só que não deu nada certo, porque a pessoa não queria conversar
comigo, só queria ter contato sexual e eu não queria ter contato sexual com ela, então eu acabava dando várias desculpas.
Ás vezes eu ia visitar a pessoa achando que a gente ia jogar videogame, mas a pessoa na verdade me enganava e tentava fazer coisas sexuais e eu falava não, eu não quero isso, e acabou como um fracasso.
Porque eu não consigo entrar numa relação onde a base dela é basicamente o sexo, pra mim é muito importante a conversa, é muito importante você se entreter com a pessoa de formas que não sejam sexuais, assistir um filme, jogar um jogo ou conversar, eu gosto muito de conversar.
Então pra mim quando eu conheci meu namorado, atual noivo, a primeira coisa que a gente fez foi conversar bastante, a gente não teve nenhum contato sexual no começo da nossa relação, demorou um tempo pra gente ter o nosso primeiro contato sexual, e foi muito de boa pra mim, foi totalmente diferente dessa primeira pessoa allo que eu me relacionei, porque pra mim foi uma coisa muito apressada, sabe, a pessoa me beija e já quer fazer várias coisas sabe, eu não quero dar detalhes disso, porque pra mim não faz sentido, eu não sinto nada por aquela pessoa, eu não tô construindo nada com ela, ela não tá me dando motivos pra gostar dela.
Pra mim ter contato sexual com uma pessoa que eu não gosto realmente é sem sentido. Eu conheço várias pessoas allo, respeito elas e a vontade de ter esse tipo de relação, só que pra mim não faz sentido, eu prefiro conversar bastante com a pessoa, ver um filme, comer, nossa jogar videogame, assistir anime, coisas de “nerd”.
Mas enfim, pra mim, atividade sexual pra mim é como qualquer outra forma de entretenimento, não é algo crucial, algo que se você tiver vontade de fazer você faz, se não tiver vontade de fazer você não faz. E eu acho que é assim que eu vejo a minha relação, a gente não bota a atividade sexual como algo crucial, algo tipo, precisa ter isso se não já era.
Acho que em alguns momentos da nossa relação, essa questão sexual foi uma das coisas que mais atrapalhou o nosso desenvolvimento de relação, do que necessariamente ajudou, porque a gente se cobrava, nesse sentido de ter relação, mas com o tempo a gente foi percebendo que, no fim das contas isso não é nenhuma base de relacionamento, que a nossa relação é muito mais de
conversa, muito mais de sentimento, muito mais de carinho mesmo. A gente é muito grudento e meloso.
A gente joga muito RPG juntos, isso é uma coisa que eu gosto, a gente faz várias coisas juntos, isso é uma coisa importante pra mim. Teve um momento que a gente foi pra uma mesa de RPG, tinham outros caras lá que namoravam e eles falavam assim “não, porque nerd, quando começa a namorar, quer transar todo dia” e não sei o que “e nossa, eu e a minha namorada a gente transa pelo menos 3 vezes por semana”.
E tipo, eles não paravam um minuto, de exaltar o quanto eles eram “transudos”, e eu ficava olhando pro meu namorado, a gente a vários e vários meses sem transar e não é tipo, fase de relação, isso não define a relação. Isso é entretenimento como qualquer outro.
Eu acho que a gente já teve atividade sexual juntos e foi quando a gente queria, quando a gente não queria a gente se respeitava, a gente não ficava se forçando, a gente não precisa transar toda semana. E acho que assim, parafraseando choque de cultura, as pessoas não transam, elas mentem que transam”.
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Enfim, é isso que eu penso. A nossa relação pra mim, foi uma relação muito importante, porque ela tirou esse peso da atividade sexual de você ter uma performance sexual pra conquistar a pessoa e ela não te deixar.
Eu acho isso tão ruim sabe, pra mim, você não se relacionar com uma pessoa porque ela não sabe transar , ou porque ela não tem performance ou qualquer coisa, pra mim isso não faz sentido, porque você tá se relacionando com o que? Com uma genitália ou você tá se relacionando romanticamente com uma pessoa?
Porque eu acho que é isso inclusive, que pessoas allo deviam fazer, elas deveriam definir a relação delas, é uma relação sexual que você ta tendo com a pessoa, é uma relação romântica? Uma relação queer platônica?
É isso que ela tem que ter sabe, essa base, pra não acabar gerando esse atrito, elas entram num relacionamento romântico mas esperam uma performance sexual, uma atividade sexual constante. Não que isso seja errado, não que isso
não possa ser crucial na sua vida, você pode ver isso como uma coisa crucial, que você precisa ter ou já era.
Mas você não pode aplicar isso a outra pessoa sabe, precisa ter comunicação, você chega na pessoa e fala, ah eu acho isso importante na relação e a pessoa fala, ah pra mim isso é um problema ou coisa assim, pra vocês chegarem num consenso, eu acho que isso é muito importante, porque se você não tem esse discernimento, você acaba entrando numa relação, achando que precisa de alguma coisa que às vezes não precisa, ou acaba fazendo mal pra outra pessoa.
Acho que eu acabei falando um monte de coisa e não cheguei a lugar nenhum, mas deu pra entender.
Mayara: Meu relacionamento com uma pessoa allo é assim, apesar da relação sexual ser uma parte bem notável no meu relacionamento, até porque nós dois somos da comunidade BDSM também, mais uma coisinha no nosso relacionamento que não é nenhum pouco normativo.
A comunicação, a conversa é essencial. E essa coisa que o rafa tava falando de relacionamentos allos se beneficiarem, de ouvirem a comunidade ace é muito real, porque às vezes as pessoas não sabem o que elas esperam num relacionamento e não conversam sobre o que elas esperam num relacionamento e aí ficam chateadas quando elas não recebem o que elas esperam no relacionamento, sem terem informado a outra pessoas o que é que elas estão esperando.
E as pessoas precisam aceitar que às vezes o que você espera, é uma coisa que a outra pessoa não pode dar, aí você tem que ver se é algo que você vai se comprometer a fazer o relacionamento funcionar mesmo sabendo que a pessoa não pode te oferecer isso que você tá esperando, ou se é o suficiente pra você procurar um outro relacionamento em que você vai ter aquilo que você ta esperando. Tipo você tá esperando morar num apartamento pequeno com um cachorro pequeno, um gato pequeno, qualquer coisa assim, mas a outra pessoa quer uma casa com um quintal gigantesco, uma fazenda.
Se vocês não conversarem, como é que fica, entendeu? E tem outras questões também, casar ou não casar, ter filho ou não ter filho, morar onde, todas essas coisas que fazem um relacionamento e às vezes se você não conversa você não tem como saber, você só vai ficar se frustrando mais e mais.
Catarina: O Rapha tocou num ponto importante, que foi o fato de terem relações que você ta lá só pela performance (sexual) e eu sei que por muito tempo, eu acreditei que era assim mesmo, que eu tinha que me esforçar pela outra pessoa, elas estavam sempre exaltando essa performance sexual, essas pessoas que eu me relacionei.
Quando eu entrei num relacionamento que isso não era necessário, foi um choque muito grande, porque ele não tem essa necessidade de falar sobre sexo ou tudo que envolva isso, aí meu último “quase relacionamento” era constante sabe, ele só me procurava pra isso e quando eu negava ele ficava puto, brigava comigo, então tipo foi um choque muito grando, porque eu jurava que todo relacionamento tinha que ser desse jeito sabe,tinha que ter a parte sexual, tinha que mandar foto, não sei o que.
Eu ainda estou trabalhando nesse fato, sabe, de que não é necessário, que isso varia de pessoa pra pessoa, que eu não tenho que me forçar a isso. Então foi uma carga que meus relacionamentos extremamente sexuais allosexuais acabaram me trazendo, tinha que ser extremamente sexual, tinha que mandar foto, que não sei o que, me deixou completamente doida sabe. Eu também tinha ideias de sempre trazer coisas relacionadas a isso.
Mayara: Uma coisa que você falou que me fez pensar, é que as pessoas confundem comprometimento com sacrifício. Estar num relacionamento é um compromisso, você se compromete com a pessoa a tentar fazer aquele relacionamento dar certo, isso significa que você vai ter que abrir mão de coisas que você quer e às vezes a pessoa vai ter que abrir mão de coisas que ela quer, pra tentar fazer o relacionamento seguir em frente e funcionar, mas não é nunca, um sacrifício.
Se o que você está fazendo é um sacrifício, significa que tá na hora de você parar e repensar esse relacionamento. Então assim, você tem uma festa que você quer muito ir e a outra pessoa não gosta muito de festas, mas ela gosta muito de você e aí você pede pra ele, pô vamos nessa festa comigo? E aí você pensa, ir na festa é muito sacrifício, ou é só se comprometer para ver essa pessoa feliz? Se for muito sacrifício você vai falar, então, ir pra essa festa hoje, não vai ser legal pra mim, por causa de x, y e z.
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E aí o seu parceiro pode pensar, ok então eu vou sozinho, ou então, ah ok, então eu não vou, ou então, ah se a gente for, a gente pode sair na hora que você quiser, a gente não precisa ficar até altas horas, aí tem essa conversa. Se, chega num ponto que não tem conversa e é um sacrifício, tá na hora de repensar o relacionamento.
E é mais uma coisa que eu acho que todo mundo, ace, aro, allo, tem que parar pra pensar e aprender, porque é um jeito de você ter relacionamentos saudáveis, não só com parceiros platônicos ou românticos, mas também com amigos, com família, com qualquer tipo de pessoa. Se você sentir que você tá fazendo um sacrifício e a galera não tá te ouvindo, tem um problema aí.
Raphael: Essa fala é muito importante, até me impactou, porque às vezes eu sinto que as minhas relações de amizade, principalmente, são bem assim. Eu acho importante a gente sempre ver a nossa vida naturalmente, pensando que todo mundo é como a gente.
Eu não entendia essas atrações e aos poucos eu vou entendendo, tipo nossa, essa relação não ta funcionando por causa disso, e principalemte com pessoas allosexuais, elas ja vem com um script de como elas devem se relacionar e a gente não tem esse script e o interessante é que isso acaba construindo as nossas relações, a gente acaba tendo mais paciência para explicar as coisas.
Mayara: Eu não diria nem paciência pra explicar, eu diria, a gente desenvolve paciência pra ouvir, porque a gente sabe como é difícil pra gente falar, não tem que ter paciência pra ouvir o outro.
Myrna: O meu relacionamento, eu acho que foi um pouquinho diferente do que vocês falaram pra mim. Mas eu acho que era o meu primeiro relacionamento presencial e dele também, então eu nem sabia como ele ia fazer, como eu ia fazer e no meu relacionamento isso não chega nem a ser parte importante eu acho, eu sinto muita vontade, então eu acho que não é nada importante sabe, não é nada que abale.
Mojo: Eu acho que a gente já falou bastante aqui, enfim, a gente passou por todos os tópicos e tal, eu gostei bastante da nossa conversa. A gente pode fazer outra conversa, sobre alguns assuntos mais específicos né, tem muita coisa que a gente conseguiu tirar do nosso episódio de hoje e dá pra gente se aprofundar em
cada uma dessas coisas eventualmente e se vocês quiserem participar no futuro de outros episódios.
Queria agradecer a participação de todo mundo que veio aqui né, Calisto, Mayara, Myrna, Rafa, que vieram participar do nosso episódio de hoje sobre relacionamentos. Gostei muito das adições que vocês trouxeram, foi bem legal. Eu acho muito interessante a gente trazer várias visões diferentes e também é ótimo ter um espaço seguro para falar das nossas experiências como assexuais né, eu acho que por hoje é isso. Alguém quer dar um tchau ou alguma coisa assim?
Mayara: É, obrigada por me convidar, eu espero que os ouvintes tenham gostado da conversa, porque pra mim foi muito produtiva, eu gostei bastante de ouvir vocês e de trocar ideias com vocês, eu to muito feliz que apesar dos pesares, a gente tá num momento bom da nossa vida, com os nossos respectivos relacionamentos. Eu espero que quem está ouvindo também esteja, com ou sem relacionamento.
Raphael: Eu queria agradecer a todo mundo que assistiu esse episódio, ou que vai assistir e agradecer também ao mojo e as pessoas que vão fazer a edição, que vão organizar isso aqui e por ter me chamado.
Myrna: Obrigado pelo convite, ao morfeu que nem tá aqui mas ele que me chamou, a todo mundo, vocês são pessoas muito legais. Eu sei que eu não falo muito, eu sou bem tímida, mas é muito bom estar aqui e ouvir vocês.
Calisto: É, obrigada pelo convite e todo mundo aqui, obrigada pela conversa, foi muito bom.
[Música de encerramento]
Mojo: De novo, obrigado pela participação de vocês no episódio de hoje e é isso, agora a gente encerra e eu espero que vocês decidam escutar os nossos próximos episódios e por favor, nos sigam nas nossas redes sociais, no twitter, no instagram, no tiktok, no spotify, é tudo aroaceiros. Mais uma vez obrigadão pela participação de vocês e aos nosso ouvintes e até a próxima. Tchauzinho.
[Música final]
Transcrição de áudio: Sofia e Kayê;
Revisão da transcrição: Ravi;
Edição: Eduarda;
Revisão de áudio: Ash.
Uma resposta para “Podcast #3 – Relacionamentos”