Resenha de “Rádio Silêncio”. Alice Oseman, 448 páginas, Young Adult.
Por Ravi P.

Spoiler: eu chorei mais que criança perdida no supermercado.
Rádio Silêncio é um livro da Alice Oseman, o segundo livro que ela escreveu até, que fala sobre a Frances, uma adolescente rumo à vida adulta e acadêmica. A Frances é aquela típica adolescente obcecada com estudos, cujo único objetivo é cursar o ensino superior numa universidade renomada.
Mas todos os planos dela parecem ser muito pequenos em relação a tudo que ela vive nos últimos meses dessa jornada de estudos. Isso porque no seu último ano do ensino médio, a Frances acaba se aproximando muito do seu vizinho da casa da frente, o fofo do Aled, um garoto inteligente, quieto e tranquilo que parecia ser muito parecido com a Frances em tudo.
Parece até começo de história de romance, né? Mas já aviso que esse livro tem suas pitadas de romance, com um casal que eu torci pra acontecer e sofri junto (e chorei junto), mas não é bem o casal cishet que algumas pessoas podem achar que vai acontecer.
Abordando temas como abuso parental, psicológico e emocional, Rádio Silêncio é um livro delicado e fluído, que trabalha muito bem sobre esses temas, além de mostrar uma realidade dura e de forma muito bem desenvolvida sobre transtornos psicológicos e as consequências da pressão que adolescentes sofrem dentro e fora das escolas e, pior ainda, dentro e fora de casa, pela própria família.
Desde já, aviso que você vai odiar muito uma mãe que aparece nesse livro. E vai amar muito a outra. Durante toda a história, eu desejei com todas as forças que a mãe da Frances fosse a minha mãe e, mesmo tendo todo o apoio e compreensão em casa, a Frances é um exemplo do que as expectativas e pressões de outras pessoas podem fazer com ume adolescente se desenvolvendo, principalmente no ambiente escolar, com todas as cobranças de notas, atividades e, dentro do contexto britânico, da associação dessas notas ao seu futuro no ensino superior.
Mesmo abordando tantos assuntos complexos, Rádio Silêncio também traz ótimas representações LGBTQIAP+. Desde um entendimento muito bom (melhor do que eu esperava) sobre identidade de gênero, o que pode ser percebido de forma sutil e breve quando mencionam Rádio, a personagem criada para o podcast Universo Cidade (a piada também rola em português!), até personagens de várias identidades sexuais diversificadas, Rádio Silêncio tem representatividade assexual.
A todo momento, eu fiquei esperando quem era ace aparecer na história, mas quando eu fiquei sabendo, percebi que era perceptível desde o início, todos os indícios estavam ali. Todo o desenvolvimento dessu personagem ace é feita de forma delicada e, apesar de não ser aquele livro palestrinha que te ensina detalhe por detalhe das identidades que mostra, foi muito tocando ver essu personagem explicar como sua demissexualidade funcionava e por que su parceire deveria ficar tranquile, enquanto reafirmava seus sentimentos por essa pessoa.
Eu me vi nessu personagem em todos os momentos angustiantes, tanto envolvendo questões sobre a identidade sexual, quanto questões psicológicas causadas por temas que eu já falei por aqui.
Livros assim, que nos trazem representação de forma leve e natural, são muito importantes pra sensação de pertencimento e merecimento que a comunidade queer merece. Mas mais do que isso, ver ume personagem assexual ser mostrade de forma real e humanizada mexeu comigo de formas que nenhum outro livro conseguiu.
Mal posso esperar pra ler mais e mais livros dessa autora, que tem uma escrita leve e que prende muito bem sua atenção. No geral, Rádio Silêncio é um livro ótimo que deve ser tratado como tal.
Uma resposta para “‘Radio Silencio’ não é um livro pros fracos de coração”