Autoria: Isabela
Revisão: Eloah
Eu sou suspeita para falar, porque eu amo a Alice Oseman. Já li vários dos livros dela e acho que posso dizer que sou uma fã do seu trabalho: desde “Heartstopper”, à “Um ano solitário” e é claro, “Rádio Silêncio”. Eu acompanhei a jornada da Alice em vários trabalhos e é incrível ver o desenvolvimento dela como escritora. “Sem Amor” é, sem dúvida, o ápice dessa evolução. O que esse livro fez comigo está muito além do que qualquer outro já me proporcionou e o principal motivo é muito simples: eu finalmente me vi em uma personagem.
“Sem Amor” é o quarto romance da autora e nele acompanhamos a história de Georgia Warr, que nunca se apaixonou, beijou ou teve um crush na vida. Sendo uma menina romântica e obcecada por fanfics, ela tem certeza que ainda vai encontrar a pessoa certa. Conforme ela entra na universidade com seus melhores amigos, Jason e Pip, Georgia decide que essa é sua chance de começar sua vida romântica. Ela acaba descobrindo que isso é mais difícil do que ela imaginava, e inicia um longo e doloroso caminho de autodescoberta da sua orientação romântica e sexual.
No livro, nós mergulhamos em um universo que é muito pouco explorado na mídia como um todo, mas que nós A-spec conhecemos muito bem. Enquanto Georgia começava a entender o significado de assexual e arromântique, eu me debruçava com a minha própria experiência como aroace. O romance nos mostra situações corriqueiras da vida de pessoas como nós: o tratamento infantil por não se interessar por sexo, a sensação de se sentir um alien porque não tem referências de outras pessoas como você, relacionamentos instigados pela pressão de “ter que estar com alguém”, mas também, a importância que nós damos a amizade. Além disso, Georgia não é a única que se identifica com o A de LGBTQIAP+ no livro e ela atua tanto como aprendiz, como mentora dos outros personagens aro e/ou ace.
Apesar do livro ser recheado de representatividade A-spec, ele não se sustenta só por isso. Os personagens da Alice Oseman sempre são incríveis (Aled Last não me deixa mentir), mas nesse livro ela se superou, pois o que são esses personagens secundários! Pip, Jason, Rooney e Sunil, cada um com seu próprio enredo e background, me encantaram por serem tão reais e acabarem parecendo meus próprios amigos. Com certeza elus se tornaram meus comfort characters.
Uma outra coisa que acho legal destacar é que, apesar de sexo não ser o foco da narrativa (bom, não da maneira convencional), ainda sim, é uma história que fala de sexualidade de maneira despretensiosa e livre de tabus. Um desses temas é a masturbação, encarada com a maior naturalidade. O mesmo pode se dizer do romance, em cargo de um enemies to lovers sáfico incrível (e olha que não sou a maior fã dessa trope) que me deixou derretendo de tanto amor.
E para deixar o livro ainda mais divertido, a colega de quarto de Georgia, fascinada por Shakespeare, decide montar uma peça no final do ano letivo para concorrer a uma vaga na sociedade de teatro da universidade. Vemos Georgia e seus amigos tentando montar uma apresentação enquanto passam por seus próprios problemas pessoais, confusões e desentendimentos. É um subplot bem agradável, cheio de altos e baixos, que só acrescenta na personalidade de cada um deles.
Ironicamente, “Sem Amor” é o completo oposto do que o título sugere. Não há dúvidas que esse é um livro sobre amor. Amor puro, amor tóxico, amor platônico, amor romântico. Todos têm espaço nessa obra digna de um lugar de destaque na estante.