Texto por Luke
Quando pequeno via filmes de princesas que encontravam seus príncipes
Diziam “que romântico”
“eca” era o que eu dizia
“É só uma criança, com o tempo isso passa”
Passou?
Aos 7 conheci o “amor da minha vida”
o que eu sabia? Eu só tinha 7
Aos 9 eu dizia “só não encontrei a pessoa certa”
Aos 11 me “apaixonei” pela minha melhor amiga
Será mesmo?
Não me imaginava namorando ela, seria um clichê
Aos 13 decidi que queria me apaixonar, afinal não era “normal” eu só ter me “apaixonado” uma vez
Aos 14 decidi que gostava de alguém
Fiquei com ele, não senti absolutamente nada
Tenho um bloqueio, só isso
Será mesmo?
Ainda aos 14 li um livro, vi um personagem arromântico
“Pô gostei bastante desse personagem, até me identifiquei um pouco, a diferença é que comigo é bloqueio”
“Certeza que você tem um bloqueio?” foi o que me disseram
“claro” foi o que eu respondi
Em casa pesquisei sobre arromanticidade
“não sou isso, não sou o que dizem no vídeo, já gostei de alguém”
“Não posso ser mais uma sigla do LGBT”
“tenho que ser ‘normal’”
Como se eu não fosse.
Aos 14 conheci uma pessoa arromântica e começamos a conversar
Suas experiências batiam com as minhas, mas não todas
Meu corpo tremia, tremia pela conversa, tremia pela possibilidade de perder o resto de “normalidade” que eu tinha
Encerrei a conversa
Aos 14 vi que arromanticidade era um espectro, vi que podia me encaixar nisso
“Também acho” foi o que a primeira pessoa que soube disse
“Eu já desconfiava, não é nenhuma surpresa” foi o que a quarta pessoa disse
Aos 14 entendi o que eu sou, mas ainda me pego tentando ser “normal”
“Eu ainda posso ter um relacionamento”
É o que eu realmente quero ou é o que eu quero mostrar para o mundo?
“Vocês namoram?”
“Dariam um ótimo casal”
odeio essas frases
Não gosto da ideia de namorar
Namorar exige um nível de romancidade que eu não tenho
Dizem que eu vou achar alguém que me entenda e queira ficar comigo mesmo assim
Não quero isso, não é justo comigo e nem com ela
Vou me forçar a tentar sentir algo por ela
E ela merece alguém que possa gostar dela do jeito que ela goste
Aos 14 eu sei que vou passar por muita coisa
mas eu sei que tenho pessoas que me entendem
“Logo você vai estar namorando”
“Não” é o que minha irmã diz junto a mim
“Eu te amo tanto que te namoraria” falo a frase que sei que ele entende como ironia, nós dois rimos
“A gente é normal, na nossa versão. Ser normal do nosso jeito é a melhor coisa” foi o que ela disse quando falei que negava ser quem eu sou para ser “normal”
São essas pessoas que eu quero na minha vida
Sei que elas sempre estarão comigo, que me amam e nunca vão cobrar algo de mim
Aos 14 eu vi que ser arromântico não é algo ruim
Aos 14 eu percebi que não preciso me forçar sentir algo que não sinto
Aos 14 eu posso dizer ” Sou arromântico sim, e daí?”
Aos 14 eu também percebi que não posso sair gritando isso
Talvez eu até possa, mas…
Aos 14 eu descobri que não sou tão corajoso quanto eu pensava
Palavras do autor:
Meu nome é Luke, tenho 15 anos, sou bissexual, demiboy e arromântico. Para ser bem sincero, me descobrir arromântico foi a coisa mais difícil que já fiz. Entender que não tem nada de errado comigo e que me encaixo como arromântico foi difícil e demorado, porém tive ajuda de pessoas que me apoiaram, o que foi muito importante.
Instagram: @luke_24545